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3 de outubro de 2012

Como se forma o rosto humano:REPORTAGEM DO FANTASTICO

matéria do Fantástico....

Rosto humano se forma por um encaixe preciso de peças

Coração começa a bater na terceira semana de vida, mas rosto humano surge apenas na décima semana.

Como o corpo da gente se forma? Como ele é construído, peça a peça, dentro do útero materno? E quando o coração começa a bater? Agora imagine isso em dose dupla ou tripla!


A partir do instante em que o espermatozoide fecunda o ovulo, a jornada é longa e traiçoeira. Nos seis dias seguintes, 70% das gestações terminam em aborto espontâneo antes mesmo da mulher desconfiar que estava grávida. 

Agora, Paula Roberta até brinca com o assunto, mas quando descobriu que estava grávida de trigêmeos, Roberta tomou um choque. 

“Quando ele foi me mostrando o coração de cada um deles, eu fui vendo, eu levei uns 40 minutos para levantar da maca, porque foi muito difícil. Depois desabei a chorar porque é difícil receber uma notícia dessas”, lembra. 

O que aconteceu com essa paulista de 31 anos é um fenômeno raríssimo. Primeiro, seus ovários liberaram três óvulos de uma só vez. Depois, os três foram fertilizados por espermatozoides diferentes e não só vingaram, como estão vendendo saúde! 

Cada bebê tem seu próprio saco gestacional, seu “quartinho” dentro da barriga, vamos dizer assim. Mas, para chegar a esse ponto, os três bebês precisaram vencer muitas barreiras. 

E uma das mais difíceis foi no começo, ao passar de uma para duas células, depois para quatro, oito, dezesseis e assim em diante. É nesse processo de divisão que outro fenômeno raro pode mudar o rumo de uma gravidez. 

Um embrião, de repente, se divide em dois. Acontece nos 12 primeiros dias de gravidez, uma vez a cada 250 gestações. Nesses casos, os dois bebês compartilham o mesmo saco gestacional. Foi assim com as nadadoras Bia e Branca Feres. 

“Nossa, a gente dorme na mesma cama até hoje. Cada uma tem um quarto. Eu tenho o meu quarto, mas a gente dorme junto. A gente gosta de dormir no meu quarto”, conta Bia. 

Gêmeas idênticas não só na aparência, mas no jeito de falar, de se vestir. “A gente gosta de ser igual, ainda tem isso”, diz. 

Em sintonia perfeita para o nado sincronizado, que elas praticam desde muito cedo. “Facilita numa prova de dueto, onde as pessoas precisam estar o mais igual possível, e a nossa perna é igual, a genética é igual”, lembram as gêmeas. 

“Até uma vez, a gente treinando na seleção, nós duas machucamos a virilha e todo mundo achou muito estranho, porque a gente machucou feio ao mesmo tempo. É porque o nosso corpo é igual e ele respondeu igual a um estímulo que foi muito forte pra gente”, destacam. 

A construção do corpo humano é incrivelmente complexa. A transformação mais surpreendente ocorre apenas duas semanas depois da concepção: um fenômeno conhecido como gastrulação. Acontece em todos os animais e pode ser visto bem de perto nos sapos. É quando deixamos de ser um aglomerado de células desorganizadas para, aos poucos, ir tomando jeito de corpo. 

De forma elegante, quase mágica, essas células escolhem, por conta própria, seu destino. Umas vão dar origem ao coração, outras ao cérebro, músculos, ossos. 

Em três semanas, um coraçãozinho minúsculo já começa a bater. Nessa fase, todos nós poderíamos ser confundidos com qualquer outro mamífero, ave ou anfíbio, já que somos descendentes do mesmo ancestral. 

A partir da décima semana de vida, não há mais como ter dúvidas: surge o rosto humano. Com ele, podemos dizer o que estamos sentindo, o que pensamos e de onde viemos. 

Durante a formação do rosto humano, dentro do útero, ele não apenas cresce, mas se forma por um encaixe preciso de peças, como num quebra-cabeças. É fundamental que as três peças principais da face em formação se encontrem exatamente na metade do lábio superior. Um pequeno erro no encaixe deixa uma abertura no local. Um em cada 700 bebês nasce com esse defeito, que pode ser detectado ainda no útero. 

“Eu descobri na hora que nasceu. A médica veio conversar comigo”, conta Josefa Silva. 
Josefa acabou não fazendo um exame importante na gravidez. Soube na mesa do parto que sua filhinha Tamires tinha a chamada fenda palatina, uma fissura que parte o céu da boca, e dificulta a alimentação. 

“Ela chegou a tomar leite pela sonda, ela chegou a aspirar leite, foi pra UTI. Nesse período, achei que pudesse perder a menina. A gente tomou um susto, mas graças a Deus, está bem. Eu me emociono porque foi uma fase difícil, sofrendo bastante”, lembra. 

Numa cirurgia de duas horas, os médicos corrigem o lábio superior de Tamires, agora com oito meses. O fechamento do céu da boca vai ficar para daqui a alguns meses. 

O pai de Tamires está aliviado. Antonio também nasceu com um defeito semelhante, porém mais leve, porque a fenda, no caso dele, atingiu apenas o lábio superior. Sofreu muito preconceito até ser operado, aos 13 anos. A filha não vai passar por esse sofrimento. 

A relação entre mãe e filho é visceral e começa ainda na gravidez, com uma parceria - extremamente injusta. Em poucas semanas, o bebê faz uma ligação clandestina de vasos sanguíneos para roubar, através do cordão umbilical, os nutrientes maternos. 

Daí em diante, é só crescer. Paula Roberta está no fim da gravidez. Para abrigar seus três bebês, o útero dela precisou aumentar quase mil vezes de tamanho. 

“Essa fase não se dorme, não se come muito, não tem posição para sentar, para deitar é muito difícil e é uma gravidez muito dolorida. As crianças mexem, mas dói demais. É bem dolorido”, ela conta. 

“Você imagina: o útero é jogado lá pra cima. Chega no diafragma, então ele empurra o diafragma para cima, e aí a respiração fica curta. Além disso, ele desloca o coração para o lado de lá. O estômago fica prensado. Você come um pouquinho, parece que você comeu um boi”, explica o doutor Drauzio Varella. 

Chegou o dia do parto. Numa gravidez de alto risco, os médicos de Roberta optaram por uma operação cesariana. Primeiro veio o João Paulo, depois a Maria Fernanda e, por último, o menorzinho, Mateus Henrique. 

Os trigêmeos ainda ficaram 19 dias internados para ganhar peso, mas, assim que chegaram em casa, deram uma colher de chá para a mamãe e se comportaram como três anjinhos. 

E a pequena Tamires agora é outra criança, pronta para fazer toda a bagunça que se espera dos bebês saudáveis e felizes. 

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